Dilema

Foto: Pinterest
A campainha tocou. Abaixei o volume da música e ajeitei o cabelo, estava organizando a casa. Gritei um “já vou” e me encaminhei até a porta para abri-la. Meu susto oscilou entre a paralisação e um abraço súbito. Você estava diferente, mas vestia o mesmo sorriso de sempre. A barba estava maior que nunca, o suéter verde água contrastava com a pele morena e o jeans surrado fazia jus ao estilo. De um lado a mala e do outro uma muda de flores. Te chamei para entrar e disse para não reparar a bagunça. Do cabelo ou da casa? Você perguntou.
Rimos juntos. Só você para se sentir tão à vontade assim. Foi até o armário, pegou o café, colocou água para esquentar e enquanto esperava ferver me puxou para mais um abraço apertado. Eu sabia que estava na cidade, mas não imaginava que iria vir me visitar. A última vez o café tinha acabado. Enquanto o café não ficava pronto, eu ajeitava um lugar adequado para as flores.
Você disse que eu amaria conhecer os países da Europa que visitou dessa vez. Tenho certeza que sim, mas enquanto não finalizar os projetos não conseguiria sair da cidade. Você coçou a cabeça e eu sabia que minha resposta não o agravada. O que foi? É que você sempre diz isso: projetos, trabalho, estudos. Quando vai deixar isso de lado e viajar comigo? Você não entende. Não entendo. Ficamos em silêncio, o único barulho era da água fervendo, que logo você jogou dentro do filtro com café.
Você pegou duas canecas, serviu, abriu a geladeira encontrou o chantilly e acrescentou no café. Sentou-se no chão da sala encostado no sofá, bebeu um gole e me chamou para sentar ao seu lado. Sentei-me e sentia meu coração querer pular fora. Eu já sabia o que vinha agora, mas não estava preparada. Não agora. Bebi o café com chantilly, aquilo estava uma delícia. Não podemos ficar assim para sempre. Eu olhei para você e não consegui responder. Encostei a cabeça no assento do sofá, fechei os olhos e fiquei pensando em como recusar mais uma vez a proposta.
Encontrei uma casa legal em Brisbane. Sei que você prefere apartamentos, como esse aqui, mas a casa tem tudo a ver com você. Não fechei o negócio ainda. Você não acha muito equivocado? Equivocado? Eu podia sentir a sua raiva vindo. Estamos nessa há mais de quatro anos. Antes você dizia ser os estudos e então, te esperei, depois a desculpa de estabilidade financeira, agora os projetos e emprego. Como você acha que é para mim? É mais difícil para eu que fico… Então porque não vem? Balancei a cabeça.
Escuta, estou voltando para lá na sexta. Comprei sua passagem, se você se decidir sabe o que fazer. Você bebeu o último gole, deu um beijo na minha testa, deixou a passagem em cima do sofá e saiu pela porta.
Fiquei ali, olhando para a passagem, em um dilema e sem saber o que fazer.

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